terça-feira, março 01, 2005

segrEdo

Perdoem a minha insistência neste poeta .. . mas as suas palavras preenchem-me .. . .

"Nem o Tempo tem tempo
para sondar as trevas


deste rio correndo
entre a pele e a pele


Nem o Tempo tem tempo
nem as trevas dão tréguas


Não descubro o segredo
que o teu corpo segrega"


David Mourão-Ferreira

unÍssono

"A seguir ao sol-posto entre a sombra e a sombra reencontro."

"A palavra e a pele em uníssono pedem que lhes pegue."

"Ou relâmpago ou transe Que fulgure ou se expanda cada instante."

"Prolongado crepúsculo és agora do mundo o resumo."

David Mourão-Ferreira

crespÚsculo

Recordo o primeiro poema que reconstruí com a minha voz:


"É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
Quando a noite se destaca
da cortina;
Quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
Quando a força de vontade
ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
É quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz lívida, a palavra
despedida."

David Mourão-Ferreira