quinta-feira, fevereiro 24, 2005

trIgo

Um homem embrulhado num cobertor castanho escuro tira do bolso um saco de plástico com água e um peixinho vermelho.


"...anteontem aconteceu-me uma desgraça, vi que o peixinho precisava de mais água e deitei-lhe um balde cheio de água, mas foi demais e depois a água estava assim desta altura por cima do aquário, mas eu só vi isso no dia seguinte e o peixinho nadou borda fora e caiu no chão.
Mas o peixinho não tinha água no chão, porque fora do aquário não temos mais água nenhuma no quarto.
Então a dona da casa disse-me: «Vai ver que o peixe lhe morre aí no chão, era melhor o senhor matá-lo». Para ele não ter de sofrer tanto, pensei eu, matá-lo com o martelo? És mas é capaz de martelar o dedo, vou mas é fuzilá-lo. Então pensei: És mas é capaz de não lhe acertares bem, e então é que ele tem mesmo de sofrer, é melhor, disse eu. Vou mas é levar o peixe para o lago e afogo-o.

O picuinhas tira o peixe do casaco, lança-o à água e sai. A água, lentamente, vai ficando vermelha..."

in panfleto de Pela Boca Morre o Peixe, trigo limpo teatro ACERT

nÓs

eu e tu somos as duas asas de um mesmo pássaro.